O que pensaríamos ao vermos um Cardiologista fumando? Ou um Professor de Educação Física tomando alguma bebida alcoólica? Ou ainda, um Dentista sem escovar os dentes antes de dormir ou após comer um doce? Acredito eu que acharíamos um pouco engraçado, ou até mesmo tais situações passariam despercebidas aos nossos olhos. Mas ao certo, nenhuma delas nos agrediria, não é mesmo? Afinal são profissionais e não temos o direito de interferir em suas vidas pessoais. Por outro lado, o que você pensaria se visse um praticante de Yôga fumando, bebendo ou ainda comendo carne? E se ele fosse um Instrutor que ensinasse tal filosofia? Já pensou se numa “balada”, você me encontrasse com um cigarro numa mão e um copo de whisky na outra? E se eu ainda estivesse ébrio? “Que absurdo”, não acharia? Nesse caso todos concordam. Seria um absurdo e até mesmo uma falta de coerência, hipocrisia para um Instrutor de Yôga. Será que seria tão engraçado quanto se visse o Professor de Educação Física, o Dentista, o Cardiologista ou mesmo seu ídolo, aquele medalhista olímpico, agindo de tal maneira? Com certeza não. Por que isso ocorre com os yôgins? Vou explicar para você. Nós, yôgins, possuímos normas que com certeza facilitam nossas vidas. São elas que nos fortalecem para que a nossa profissão, filosofia, comportamento e ações sejam extremamente coerentes com aquilo que preconizamos. Não obstante, faz com que nossa existência seja muito mais analisada, interpretada e julgada pelos outros. Nenhuma surpresa para nós, afinal um Yôga legítimo tem que ser prático, portanto concordamos que deve haver uma coerência entre a vida do praticante e a sua filosofia. Não sejamos hipócritas. Estas normas fazem parte do Código de Ética do Yôgin, são denominadas yamas e niyamas, proscrições e prescrições, respectivamente. A observância dessas normas é um comprometimento consigo mesmo de auto-estudo, cujo objetivo final é o auto-conhecimento e a evolução pessoal. Agora fica mais claro entender a necessidade de se ter uma vida coerente entre aquilo que se fala e a forma como age. Desta maneira fazem, ou pelo menos, tentam fazer os yôgins. São cinco os yamas, a saber: ahimsá (não-agressão), satya (não-mentir), astêya (não-roubar), brahmáchárya (não-dissipação da sexualidade) e aparigraha (não-possessividade). Cinco também são os niyamas: sauchan (limpeza), santôsha (contentamento), tapas (auto-superação), swádhyáya (auto-estudo) e íshwara pranidhána (auto-entrega). Por que este Código foi criado? Provavelmente, as normas éticas foram criadas porque os seus opostos existiam. Como falar sobre não-mentir, por exemplo, se já não houvesse a mentira, se ela estivesse fora daquela realidade e todos falassem a verdade? Já pensou se cobrássemos limpeza de pessoas bem limpas que vivessem em uma sociedade bem higienizada? Seria ao menos incoerente. Além dessa necessidade, havia uma outra. Os yôgins não poderiam praticar o dia inteiro, porém necessitavam continuar nos seus processos evolutivos durante o resto o dia quando não estavam praticando. Como os yôgins iriam se desenvolver quando não estivessem executando as técnicas? Eles precisavam comer, dormir, fazer suas necessidades fisiológicas, se relacionar com os outros seres humanos e com a própria natureza. Foi desta maneira que os yamas e niyamas entraram em suas vidas. As normas éticas funcionam perfeitamente como a prática fora da prática, a do dia-a-dia. Ou seja, quando não estavam praticando as técnicas do Yôga, os yôgins poderiam ainda assim, aprimorarem-se e evoluírem com a observância dessas normas, utilizando-as na sua vida cotidiana. Em que foram baseadas as normas éticas? Como elas atuam? Os yamas e niyamas foram criados pelos rishis, antigos sábios ascetas em um período Pré-Vêdico, anterior às religiões estabelecidas. Estes se basearam nas forças da natureza para assim, conviverem com elas de forma mais sincronizada possível. Estudando e analisando as leis naturais, estes sábios antigos perceberam que se agissem de forma coerente com a natureza, suas vidas fluiriam muito melhor, afinal estavam imersos nessas forças e elas atuariam inexoravelmente. Mais sábio do que conhecer e agir de acordo com as leis da natureza, seria utilizá-las para evolução pessoal, fazendo com que este esforço fosse atenuado pelo poder da “correnteza” natural, nadar a favor dela. Cada ação nossa lançada no cosmo ou na natureza, como prefira, produzirá uma reação de mesma intensidade e direção, porém com o sentido contrário. Os físicos conhecem muito bem esta lei, é a terceira lei de Newton, lei da ação e reação. Os antigos também a conheciam e a chamavam de “karma”. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o karma é uma lei deação e reação e não um destino pré-estabelecido. Portanto, o que temos atualmente nas nossas vidas, nada mais é do que o resultado das nossas ações pretéritas, lei natural do karma. E assim também será no futuro, reflexo do ontem e do hoje. Agora sabemos que a sutileza dos yamas e niyamas (normas éticas) é muito maior do que a própria prática do Yôga, pois estas atuam num período mais amplo em nossas vidas. Consequentemente, seus resultados também serão mais expressivos. Que nosso retorno kármico produzido a partir de agora, seja coerente com as forças cósmicas e naturais, facilitando o nosso auto-conhecimento e evolução como seres humanos. A arte de viver bem é a maneira na qual você conseguirá agir sem agredir nenhuma lei humana, de acordo com as leis naturais, kármicas ou da natureza. Fica aí a dica, utilize dos yamas e niyamas para ter uma vida melhor.
Texto do instrutor Marcus Amorim.
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